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Ondas de Calor: É possível existir uma primavera mais fria que o inverno?

Em termos de anomalia, ou seja, desvio em relação à média, sim, é possível, e isso depende da temperatura dos oceanos

Desde os primeiros anos da nossa educação, recebemos a informação de o inverno é uma das quatro estações do ano e que é caracterizado por temperaturas mais baixas. Já a primavera é outra estação, porém caracterizada pelo aumento da temperatura. De fato, olhando-se apenas as temperaturas registradas, é normal o inverno ser mais frio que a primavera. Porém, analisado o desvio da temperatura em relação ao normal da época, existem anos que o inverno é mais quente e, quando esperamos pela chegada de ondas de calor intensas na primavera, a temperatura oscila e não permite muitos dias seguidos de aquecimento na estação seguinte. Ou seja, faz calor no inverno, mas a sensação térmica na primavera é de frio. O motivo pelo qual isso acontece, abordaremos a seguir.

Além da quantidade de energia que vem do sol, a temperatura registrada nas estações do ano é dependente da temperatura dos oceanos. No inverno, os dias ficam mais curtos e a radiação solar diminui. Com menor energia, teoricamente, a temperatura declina. Porém, se a temperatura dos oceanos está mais elevada que o normal, pode existir uma compensação, com a água do mar aquecendo lentamente o ar. O efeito pode ser ainda mais amplo quando estamos falando de aquecimento do oceano Pacífico com a formação de um fenômeno El Niño. A grande área com águas mais quentes que o normal na porção equatorial central deste oceano gera efeitos em todo o globo. No Brasil, as ondas de frio não chegam com tanta frequência, fazendo com que o inverno fique mais quente que o normal.

E uma primavera fria? Novamente, vamos olhar para o oceano Pacífico durante a formação do fenômeno La Niña, ou seja, durante o resfriamento das águas do oceano na porção equatorial central. É comum imaginarmos que, por conta da inversão da temperatura do oceano, os efeitos no Brasil são exatamente contrários. Não é bem assim. Em um fenômeno La Niña, de fato, as ondas de frio conseguem avançar com mais facilidade, seja no inverno ou na primavera, porém não por todo o país. Os resfriamentos acontecem mais na Região Sul e na porção costeira da Região Sudeste. No interior do país, o calor ainda predomina, mesmo sob La Niña.

Efeitos do El niño

Efeitos do La niña

Efeitos dos fenômenos El Niño e La Niña sobre várias partes do globo terrestre, inclusive sobre o Brasil nos trimestres dezembro, janeiro e fevereiro e junho, julho e agosto – Fonte: CPTEC/INPE

Mas mesmo afetando uma área pequena do território, o fenômeno La Niña atinge uma área que tem um grande efeito no consumo de energia elétrica do país. Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, chamada por geógrafos como “Região Concentrada”, possuem as maiores cidades, maior população, as maiores indústrias e principais portos, aeroportos, shoppings centers, supermercados rodovias.

Mudanças de temperatura mudam o hábito do consumidor que, por sua vez, muda o ritmo de produção das indústrias e de venda do comércio.

E olhando para 2024, sabendo-se que passaremos por uma transição de um El Niño neste primeiro semestre para um fenômeno La Niña no segundo semestre, imaginar que o atual calor do outono prosseguirá na segunda metade deste ano pode não ser o cenário correto.

Não trabalhe com achismos e não seja pego de surpresa. Sempre é sempre importante contar com uma boa consultoria meteorológica para que todas as possibilidades sejam analisadas e para que seja realizada a melhor tomada de decisão.