A previsão de um La Niña cada vez mais fraco sugere mudanças no padrão climático global e no Brasil, com implicações para as precipitações e temperaturas nas próximas estações
A expectativa é alta para o resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico equatorial central e a formação do fenômeno La Niña.
No entanto, alguns sinais indicam que este fenômeno, se ocorrer, será fraco e terá curta duração.
Condições Necessárias para a Formação do La Niña
Primeiramente, para que a formação do La Niña seja rápida, é necessário que a temperatura de outros oceanos esteja em sintonia. Um desses oceanos é o Índico.
Normalmente, o fenômeno La Niña se desenvolve rapidamente quando a temperatura do Índico Leste é mais elevada do que na porção Oeste.
No entanto, no início do outono, o padrão observado foi o contrário, o que atrasou o resfriamento do Pacífico Central.
Além disso, recentemente, a anomalia de temperatura do oceano Pacífico em profundidade revelou que a área de águas frias, crucial para a formação do La Niña, diminuiu significativamente em extensão. Esse fato pode impactar a intensidade e a duração do fenômeno.
Portanto, é essencial acompanhar de perto essas variações e suas implicações para entender melhor como o La Niña, mesmo fraco, pode afetar o clima global e regional.
Evolução da anomalia de temperatura no oceano Pacífico equatorial profundo com registro em 08 de maio (mais antigo) e em 27 de junho (mais recente): área com água mais fria tornou-se menor e anomalia ficou mais modesta – Fonte: CPC/NOAA
Um terceiro ponto, possivelmente inédito na história recente do monitoramento da temperatura dos oceanos, é a presença generalizada de águas quentes em praticamente todos os oceanos tropicais do globo.
Esse fenômeno cria dificuldades para que ocorra um resfriamento robusto na região equatorial do Pacífico, devido à abundância de água quente ao redor.
A mistura entre águas frias e quentes complica ainda mais a formação do fenômeno La Niña.
Anomalia da temperatura dos oceanos em todo o globo registrada em 02 de julho de 2024: áreas em amarelo, laranja e vermelho, praticamente a totalidade dos oceanos, indicam águas mais quentes que o normal – Fonte: CPC/NOAA
Simulações e Previsões do La Niña
Naturalmente, as simulações computacionais indicaram mudanças e passaram a prever, primeiramente, um fenômeno La Niña mais fraco e, em segundo lugar, de menor duração.
A Universidade de Columbia realiza mensalmente uma compilação das simulações que projetam a anomalia de temperatura do oceano Pacífico.
Na atualização de junho, essas simulações passaram a indicar que o La Niña começará entre setembro e novembro de 2024, e prosseguirá no máximo até o trimestre janeiro-fevereiro-março de 2025.
Na previsão anterior, o início do resfriamento era estimado entre agosto e outubro. Sistematicamente, a maioria das simulações tem postergado o início do fenômeno La Niña.
Intensidade e anomalias de temperatura
Em relação à intensidade do fenômeno, a média das simulações dinâmicas mostra anomalias que, no máximo, ficarão pouco abaixo de -0,5°C no trimestre novembro-dezembro-janeiro.
Na maior parte do período, a anomalia permanecerá no limite necessário para ser considerada La Niña (-0,5°C).
Para comparação, na atualização de maio, a anomalia prevista estava próxima de -1°C entre outubro e dezembro de 2024.
Previsão probabilística para os fenômenos El Niño e La Niña, bem como para condições de neutralidade, para os próximos trimestres. Inclui também a previsão de anomalia de temperatura do oceano Pacífico equatorial central para os próximos trimestres. – Fonte: IRI Universidade de Columbia
Mas, afinal, quais serão os efeitos para o Brasil?
O principal impacto estará mais relacionado com a elevada temperatura observada no Atlântico Norte do que com o fenômeno La Niña fraco.
O transporte de umidade do Atlântico Sul para o interior do continente será inferior ao normal.
Como resultado, os sistemas meteorológicos chuvosos gerarão precipitações abaixo da média na maior parte do Brasil durante o trimestre julho, agosto e setembro.
Embora os dois primeiros meses do trimestre já sejam naturalmente secos, setembro é um período em que as chuvas começam a aparecer em várias regiões do país.
Além disso, a temperatura permanecerá acima da média na maior parte dos próximos 90 dias.
Isso resultará na manutenção de baixas vazões nos rios e no aumento do potencial para formação de queimadas em praticamente todos os biomas brasileiros.
Ademais, mesmo com o La Niña fraco, alguns efeitos serão notados. Um deles será o aumento das precipitações na região norte e a redução das chuvas na região sul no último trimestre de 2024.
Por outro lado, a temperatura, que normalmente é mais baixa que o normal no sudeste durante um La Niña, permanecerá com valores acima da climatologia no final deste ano.