A formação de preços de energia elétrica no Brasil é sustentada por vários modelos, entre os quais se destacam: NEWAVE (médio prazo), DECOMP (curto prazo) e DESSEM (curtíssimo prazo).
Recentemente, tem-se discutido a necessidade de aprimorar esses modelos para torná-los mais representativos da realidade do Sistema Interligado Nacional (SIN).
No caso específico do NEWAVE, até a versão mais recente, a modelagem dos reservatórios das usinas hidrelétricas (UHEs) era feita por meio da agregação em Reservatórios Equivalentes de Energia (REE).
Essa abordagem agrupa as usinas dentro de uma mesma bacia hidrográfica ou região, considerando vários aspectos importantes da operação das hidrelétricas.
No entanto, alguns detalhes da operação individual das usinas não eram capturados pelos REEs, tais como vertimentos controláveis antes que o REE atinja seu armazenamento máximo, dificuldades em atender restrições hidráulicas específicas devido à operação em cascata e a valoração individual da água nos reservatórios.
Para melhorar a representatividade do modelo, em 2017 foi lançada uma versão híbrida do NEWAVE pelo CEPEL, que foi aprimorada e discutida pela Comissão Permanente para Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico (CPAMP) nos anos seguintes.
A principal inovação da modelagem híbrida é a possibilidade de representar as UHEs de forma individualizada em parte ou na totalidade do horizonte de planejamento, oferecendo uma visão mais precisa para a tomada de decisão operacional.
Em 25 de julho de 2024, a CPAMP aprovou o uso do modelo NEWAVE híbrido para o planejamento da operação e a formação do Preço da Liquidação das Diferenças (PLD) a partir de janeiro de 2025. Entre as principais mudanças aprovadas estão:
✅ Atualização dos valores de VMinOp (restrições de volume mínimo operativo): redução de 22,5% para 19,1% no subsistema norte.
✅ Representação individualizada de usinas hidrelétricas: implementação da representação individualizada das UHEs para os primeiros 12 meses do horizonte de planejamento.
✅ Emprego do CVaR (Conditional Value at Risk): utilização de CVaR com α=15% e λ=40% para o planejamento da operação e formação de preço, mantendo CVaR com α=5% e λ=5% para os processos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
✅ Execução completa do modelo NEWAVE Híbrido: o modelo será executado em todo o seu horizonte, sem a aplicação da Função de Custo Futuro (FCF) externa.
✅ Consideração de penalidades e micropenalidades: valores aprovados na reunião Plenária da CPAMP de 18 de janeiro de 2024 serão utilizados nos estudos do ciclo 2023/2024.
De acordo com a CPAMP, com uma parametrização apropriada da aversão ao risco, o modelo híbrido tem o potencial de otimizar os custos da operação térmica, especialmente em condições hidrológicas adversas.
O modelo híbrido facilita uma antecipação da geração térmica em situações de baixa dos reservatórios ou fluxo crítico, ajudando a manter os níveis de armazenamento do sistema elétrico.
Adicionalmente, espera-se uma alocação mais eficaz dos recursos hídricos, com uma gestão mais precisa dos armazenamentos nas bacias mais importantes do SIN.
Assim, a implementação do modelo híbrido no NEWAVE oferece uma melhoria significativa na gestão dos recursos hídricos e na operação térmica, permitindo uma representação mais precisa das usinas e uma alocação mais eficiente da água.
Embora haja desafios relacionados ao tempo computacional necessário para sua execução, a abordagem promete otimizar os custos e aumentar a eficiência do sistema elétrico brasileiro.
Em resumo, a modelagem híbrida tem o potencial de fortalecer a sustentabilidade e a eficácia do planejamento energético no país.
De modo geral, os novos pares do CVaR tendem a levar a uma maior volatilidade do PLD. Quanto ao impacto no PLD, a teoria sugere que o preço seria mais elevado devido à maior precisão na captura de riscos extremos.
No entanto, nossos estudos e as apresentações realizadas até o momento não mostram um padrão claro nesse sentido.
Na prática, não observamos uma tendência consistente que indique que o PLD esteja necessariamente mais caro com o uso do novo modelo híbrido.
Sobre os encargos, a situação é mais complexa. Os testes realizados com o modelo DESSEM indicam que os impactos em tarifas e encargos podem ser significativamente maiores do que aqueles calculados apenas com o modelo DECOMP.
Quer entender como essa atualização pode impactar seus custos com energia? Nosso time de especialistas está pronto para ajudá-lo a ajustar seu planejamento energético para essa mudança.