Tecnologia por si só não transforma. A inovação que o setor de energia precisa é aquela que alcança o consumidor, amplia o acesso e entrega valor real para a sociedade e os negócios


O Brasil ocupa uma posição privilegiada no cenário energético global.
Com uma matriz majoritariamente renovável e um ecossistema robusto de geração, transmissão e distribuição, somos referência para países que ainda enfrentam forte dependência de combustíveis fósseis.
Temos avançado em temas estratégicos, como eletrificação da mobilidade, soluções de armazenamento e digitalização de processos.
O setor se moderniza, mas nem sempre na direção certa.
A necessidade de inovar com foco no consumidor
Falta ao setor elétrico uma pergunta essencial: para quem estamos inovando?
A transformação digital, a inteligência de dados e a automação têm sido aplicadas majoritariamente para ganho operacional e eficiência interna.
Enquanto isso, persistem gargalos no relacionamento com o consumidor final, especialmente nas pontas mais vulneráveis do sistema.
Ainda é baixa a digitalização do atendimento, há lacunas significativas no acesso a programas de eficiência energética por micro e pequenas indústrias, e cresce o fenômeno da “favelização energética”, com populações marginalizadas em áreas com infraestrutura precária.
Reforma do setor elétrico e o protagonismo do consumidor
Com a reforma do setor prevista para iniciar em 2026, que trará medidas como justiça tarifária, abertura do mercado para todos os consumidores e reequilíbrio dos encargos e subsídios, o olhar para o cliente deixará de ser opcional.
O consumidor ganhará protagonismo e passará a exigir mais transparência, autonomia e personalização na relação com a energia que consome.
O setor terá de se reconfigurar para atender a uma nova lógica de mercado, orientada não apenas por megawatts, mas por experiência, confiança e valor percebido.
Reinterpretando a inovação no setor elétrico
Esse movimento exigirá das empresas uma reinterpretação da inovação.
Otimizar a geração e reduzir perdas técnicas continuam sendo importantes, mas não suficientes.

Será preciso inovar também no modelo de negócio, nas plataformas de atendimento, na forma de comunicar, na criação de produtos mais acessíveis e na oferta de soluções energéticas adequadas às realidades distintas dos diversos perfis de consumidores.
O cliente do futuro: múltiplos papéis no setor de energia
O cliente do futuro será múltiplo: produtor e consumidor, local e global, individual e coletivo.
Terá acesso à escolha, à informação e à comparação.
E isso exigirá do setor uma postura mais aberta, mais conectada e, sobretudo, mais comprometida com a entrega de valor para além dos limites técnicos da operação.
Executivos e lideranças do setor precisam assumir esse desafio com visão de longo prazo.
A inovação que fará diferença será aquela que aproxima o sistema de quem realmente o sustenta: a sociedade. Inclusão, acesso e adaptabilidade precisam sair dos discursos e entrar nas metas estratégicas das organizações.
O futuro da energia pertencerá a quem entende que inovar é criar soluções que impactam a vida das pessoas e não apenas aprimoram sistemas.

Conheça o autor
Vitória de Sá é uma especialista em Comunicação e Relações Públicas, com mais de 10 anos de experiência e um mestrado em Comunicação Midiática pela UNESP/Bauru.
Com uma paixão por inovação, ela faz parte do time de inovação do Grupo Safira que está entre as 10 empresas mais inovadoras do Brasil, no segmento de energia, segundo o Valor Inovação do jornal Valor Econômico.
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