Com investimentos em energia previstos em mais de US$ 3 trilhões para 2025, o novo relatório da IEA revela uma mudança no papel da eletricidade, das tecnologias limpas e das infraestruturas no mundo todo

Nos próximos meses, os olhos do setor energético estarão voltados para um número histórico: US$ 3,3 trilhões.
Esse é o valor que deve ser investido globalmente em energia ao longo de 2025, segundo a nova edição do relatório World Energy Investment, publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA).
Mas o destaque não está apenas na cifra. O que o relatório revela é uma mudança de lógica e de ambição.
Pela primeira vez, os investimentos em eletricidade superam com folga os destinados aos combustíveis fósseis.
Isso tem implicações diretas para empresas, governos e consumidores, do Paquistão aos data centers da Califórnia.
A eletricidade assume o centro dos investimentos
O setor elétrico deve receber cerca de US$ 1,5 trilhão em 2025.
É um volume 50% maior do que o previsto para petróleo, gás e carvão somados.
Essa mudança é puxada por tecnologias mais acessíveis.
Também reflete o crescimento da demanda por eletricidade em áreas como mobilidade elétrica, data centers, refrigeração e digitalização industrial.
A IEA define esse momento como a chegada da “Era da Eletricidade”. E os dados confirmam.
Solar, eólica, baterias, redes e eletrificação de usos finais lideram os aportes.
Ao mesmo tempo, a exploração de petróleo deve recuar 6%, sinalizando uma possível inflexão no ritmo de expansão dos fósseis.
Energia solar cresce nos países emergentes
Um dos dados mais emblemáticos do relatório vem do Paquistão.
Enfrentando apagões, tarifas elevadas e contratos de geração pouco eficientes, o país tomou um caminho inesperado.
Importou 19 GW de energia solar em 2024, o equivalente à metade de toda sua capacidade elétrica instalada.

O que acontece por lá é um exemplo claro de transição bottom-up.
Empresas e consumidores estão investindo por conta própria.
Equipamentos mais baratos, principalmente vindos da China, aceleram essa decisão.
Esse modelo descentralizado tem crescido em mercados emergentes.
Mas ele também pressiona o modelo atual das distribuidoras.
Em muitos países, a base de consumidores está encolhendo, enquanto os custos fixos da infraestrutura permanecem.
Redes travam enquanto a demanda avança
A geração renovável está crescendo. Mas a infraestrutura de redes não acompanha o mesmo ritmo.
Hoje, são investidos aproximadamente US$ 400 bilhões por ano em redes elétricas.
Enquanto isso, a geração recebe mais do que o dobro desse valor.
Permissões demoradas e a escassez de equipamentos são parte do problema.
Em países em desenvolvimento, o cenário se agrava. Muitas distribuidoras operam com fragilidade financeira, o que dificulta a expansão da rede.
A consequência direta é um gargalo. Sem rede, a energia limpa não circula.
E isso pode atrasar o avanço da transição em diversos mercados.
Inteligência artificial também consome energia… e muita

A digitalização global também está mudando o perfil da demanda energética.
Data centers e sistemas de inteligência artificial já são responsáveis por um consumo crescente de eletricidade.
A IEA projeta que, até 2030, a demanda de data centers pode dobrar, alcançando 950 TWh por ano.
Para atender esse perfil de consumo contínuo e intensivo, novos modelos estão surgindo.
Empresas de tecnologia estão investindo em pequenos reatores nucleares (SMRs) e em geotermia de nova geração.
Google, Meta e outras gigantes já firmaram contratos com desenvolvedores de energia.
A expectativa é de que mais de US$ 170 bilhões sejam investidos em geração elétrica específica para esse setor nos próximos anos.
Corrida tecnológica e nova geopolítica da energia
A China lidera os investimentos globais em energia.
Mais de 25% do capital investido em 2025 deve sair de lá.
O país atua em toda a cadeia: solar, baterias, veículos elétricos, geração térmica e nuclear.
Um dado simbólico: as exportações de painéis solares chineses para países em desenvolvimento já superam os volumes destinados a economias avançadas.
Em 2024, 41 países emergentes bateram recordes de importação.
Enquanto isso, a África concentra apenas 2% dos investimentos em energia limpa, mesmo com 20% da população mundial.
O custo elevado do capital é um dos principais obstáculos para destravar projetos no continente.
Essa desigualdade de acesso reflete uma nova geopolítica da energia.
A disputa não é apenas por megawatts. É por soberania, tecnologia e autonomia energética.
O que as empresas brasileiras podem extrair desse cenário
O relatório da IEA mostra tendências, riscos e oportunidades.
Ele indica onde os investimentos estão fluindo e onde os gargalos se concentram.
Mais do que um retrato do presente, é um alerta para o futuro.
Para empresas brasileiras, acompanhar esses movimentos é essencial.
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