Nos últimos anos, fenômenos meteorológicos extremos chamaram a atenção da sociedade e da mídia, impactando o mercado de energia para o Ambiente de Contratação Livre (ACL).
Foram episódios de chuva excessiva ou calor extremo que aconteceram quase simultaneamente no Brasil.
O último evento foi observado entre o fim de abril e início de maio, com chuva muito intensa e persistente sobre o Rio Grande do Sul, enquanto as Regiões Sudeste e Centro-Oeste registravam as maiores temperaturas para o quinto mês do ano.
Essas duas situações ocorreram pelo mesmo motivo: a formação de um bloqueio atmosférico. Mas como isso se forma e quais são suas características? É isso que veremos agora.
O que é um bloqueio atmosférico?
Normalmente, a circulação atmosférica em latitudes médias (entre 30º e 60º) ocorre em médios e altos níveis (entre 5 mil e 10 mil metros de altitude).
Essa circulação, portanto, é caracterizada por um escoamento zonal (paralelo às latitudes) de oeste.
Consequentemente, esse escoamento favorece o deslocamento de sistemas sinóticos, como frentes frias e ciclones extratropicais.
Além disso, existem duas circulações de oeste chamadas de jato polar e jato subtropical.
Porém, esta circulação pode ser interrompida pela formação em larga escala de uma área de alta pressão atmosférica anômala e semi-estacionária, em torno de 60ºS (no caso do Hemisfério sul).
Essa área de alta pressão persiste por vários dias e desvia bruscamente os transientes atmosféricos.
Como resultado, ocorre chuva intensa, inundações e deslizamentos de encosta nas áreas que ficam sob as frentes frias bloqueadas.
Por outro lado, ocorre tempo seco e calor excessivo nas áreas ao norte do bloqueio atmosférico.
As bifurcações no padrão de escoamento acontecem devido à temperatura dos oceanos.
Em alguns momentos, grandes áreas com águas mais quentes no Pacífico Sul ou até mesmo no Índico Tropical geram perturbações na pressão atmosférica e, por consequência, na circulação em médios e altos níveis, gerando os bloqueios atmosféricos.
Normalmente, esses bloqueios não são vistos mais frequentemente nos invernos do que nos verões e ocorrem mais durante a influência de fenômenos La Niña do que El Niño.
Os bloqueios atmosféricos no Brasil
No Brasil, além do episódio observado entre abril e maio deste ano, outro que chamou a atenção do setor energético foi o bloqueio atmosférico de janeiro de 2014.
Até então, não existiam relatos deste padrão no verão. Esse bloqueio evitou a formação de frentes frias chuvosas sobre o Brasil e a Zona de Convergência do Atlântico Sul.
Como resultado, houve uma manutenção dos baixos níveis dos reservatórios para geração de energia elétrica, além do aumento do consumo de energia devido ao calor.
Após 2014, outros bloqueios aconteceram nos anos seguintes, mantendo baixo o nível dos principais reservatórios, especialmente ao longo do rio São Francisco.
Somente mais recentemente, em 2021 e 2022, a precipitação aproximou-se do normal.
Vale salientar que o bloqueio atmosférico, por ser um fenômeno subsazonal (até 46 dias), tem uma baixa previsibilidade.
Ainda assim, é estudado com frequência, justamente pela sua capacidade de modificar de forma extrema o padrão atmosférico no Brasil.